O monstro que vive embaixo da cama
Autora: Alessandra Rosa
Começa sempre assim: a mãe vai
até o quarto do filho e abre a porta, a luz está acesa e ele totalmente
coberto, como se estivesse embrulhado para presente.
— Será que eu posso apagar a luz agora?
Ele
se descobre um pouquinho, um espaço suficiente para ver seus olhos inquietos.
Depois que realmente tem certeza de que é sua mãe que fala da porta, puxa
totalmente a coberta.
— Não mãe, os espíritos estão esperando que eu apague a luz para poderem me
pegar!
— Mas que bobagem, Antônio Augusto Júnior! Se existissem espíritos e se eles
realmente quisessem te pegar, a luz, acesa ou apagada, de nada importaria! – a
mulher não acreditava nessas coisas. Aliás, mães nunca acreditam nessas coisas,
elas são corajosas demais.
— Mãe, é isso que eles querem que eu pense! Você não vê?! É assim que acontece
nos filmes de terror, a luz acaba e eles pegam alguém...
— Chega, Augusto Júnior! Você está pensando que o seu pai é rico? Todo dia você
dorme com essa luz acessa! E esse ventilador ligado, Augusto Júnior? Pra quê
esse ventilador ligado? Eu entrei aqui e você estava completamente enrolado na
coberta, calor você não deve estar sentindo!
— Mas eu estou com calor, não desliga não! Ei, mãe, não! – ela desligou o
ventilador sem dó, porque a palavra dó não existe no dicionário das mães.
— Se você está com calor é só não dormir com esse monte de cobertas! – após ela
ter dito isso, o filho fez uma cara de espanto misturado com medo terrível.
— Nunca! O zumbi que vive embaixo da minha cama só está esperando eu descobrir
meus pés para então puxá-los!
— Minha Nossa Senhora dos Filhos Babacas! Antônio Augusto, você já tem vinte e
três anos! É um homem, não pode mais acreditar nessas histórias de ficção,
filho! Vou marcar psicólogo pra você, isso tudo é culpa do videogame e desse
computador que fica ligado até tarde! Vou aproveitar que segunda eu tenho
consulta com a Dra. Cintia e já marco...
— MÃE, para!
Silêncio
constrangedor no quarto. A mãe começou a analisar a bagunça do guarda-roupa.
Mães! Será que todas realmente são assim? Talvez sejam. Quando ela deixou o
guarda-roupa do filho em paz e já ia saindo do quarto, cansada de discutir, sua
atenção foi chamada:
— Tem que fechar a porta do guarda-roupa, a senhora abriu e agora tem que fechar.
Ela
voltou e fechou a porta, Antônio Augusto não dormia se a porta do guarda-roupa
estivesse aberta, vai que algum dos seus bonequinhos de colecionador ganhasse
vida durante a noite e tentasse estrangulá-lo enquanto dormia!
A
mãe saiu do quarto, mas como era marota (todas as mães são marotas), apagou a
luz e saiu em disparada. Antônio Augusto Júnior quase morreu do coração,
gritou, mas não adiantou de nada, a mãe já estava deitada, segura, no quarto
dela. Ele ficou em silêncio, se falasse era pior – os monstros prestariam atenção
em sua presença -, decidiu reunir toda a coragem de Jedi que tinha em seu
coração, em um segundo correu desesperado até o interruptor de luz, a lâmpada
novamente estava acesa. Ele respirou, aliviado. Olhou de relance para a cama,
viu um vulto branco... “Estou com sono. É isso, estou vendo coisas”.
— Eu vou dar uma porrada no meio da sua cara se você acender essa luz de novo! –
gritou a mãe que apareceu atrás dele.
— Caraaaaaaaaca, mãe! Que susto!
-
Susto por quê? Dá pra você ir dormir logo, amanhã você acorda cedo, menino!
— Vou dormir na sala, pera aí!
— Dormir na sala?
— Tem alguma coisa embaixo da minha cama, eu não vou dormir aqui.
-
Sai da frente, Augusto, eu mesma vou olhar embaixo da sua cama, vem olhar junto,
seu medroso!
Os
dois foram, a mãe na frente, Antônio Augusto logo atrás dela. O relógio deu
meia-noite, já era sexta-feira... Treze. A lua-cheia brilhava lá fora, a casa
em mais profundo silêncio, a cama cada vez mais perto, ele suava frio, sentia
vontade de ir ao banheiro, mas ainda dava para segurar, a mãe esticou o braço,
tocou o lençol da cama, já o estava levantando. De repente um apagão, a luz
tinha acabado, houve um grito maligno na escuridão...
Até parece eu, quando vou dormir! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk muito bom!!!
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